Reencontrando a Felicidade

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"Reencontrando a Felicidade" é o retrato do casal que busca lidar com um sofrimento irreparável. O filme lida de forma muito sutil com um tema pesado, sobretudo respeitando a inteligência do espectador. Não se faz necessário ir ao fundo do drama, tornar o clima denso e esgotar as lágrimas dos personagens. Não que esses elementos não estejam lá, mas entre um momento e outro há um descanso. E nesse ponto, a belíssima fotografia, juntamente com uma ágil edição, funcionam como um escape do que poderia ser apenas melancolia.

A volta de Nicole Kidman às grandes atuações casa com a competência de Aaron Eckhart, no papel do pai sofrido que busca trazer o casal para o eixo novamente. Por vezes viscerais, indo ao limite da dor, outras mais contidas, engolindo a seco a ausência. Ambos tentam juntos a superação, mas talvez precisem de um momento próprio para isso.

Terapias de casais na mesma situação podem funcionar, ou apenas soa como uma hipócrita tentativa de se reintegrar a sociedade. Uma ida ao boliche, com direito a um strike, pode ser aquele sorriso sincero tentando aparecer. Vale tentar um "baseado"? Qualquer coisa que tire aquela racionalidade sincera e dura.  É na hora da perda que podem surgir vontades incontroláveis sem pensar. Como lidar com a dor? Howie (Aaron Eckhart) tenta levar a vida de algum jeito, em qualquer entretenimento que dê uma folga a sua mente. 

Becca (Nicole Kidman) procura a realidade. Mas como encarar uma realidade na qual a própria mãe  de Becca também perdeu seu filho e tenta comparar dores a todo instante? Tudo ao redor se torna inflamável. É preciso um motivo próprio, é preciso que a dor seja única. Qualquer coisa que dê um pouco de razão ao sofrimento, que faça com que haja uma mínima explicação. 

Quantas festas de formatura que seu filho perdeu, quantos quadrinhos deixou de ler, quantas histórias deixou de contar a ele? Mas o público não será bombardeado em gritos ou culpa. Sobram subentendidos, que aliviam a carga dramática. Há um tom mais íntimo e pessoal que, no entanto, podem tornar o filme com um público mais específico. Por aqui, méritos para a direção de John Cameron Mitchel e para a trilha escolhida, que convida o espectador a sua própria reflexão e que dá aquele tempo para que tudo possa ser assimilado sem pressa. "Reencontrando a Felicidade" é como uma canção de ninar que perdeu o seu motivo.

Reencontrando a Felicidade
(Rabbit Hole, de John Cameron Mitchel, EUA, 2010)
Com: Nicole Kidman, Aaron Eckhart, Dianne Wiest, Sandra Oh, Tammy Blanchard, Giancarlo Esposito, Miles Teller, Jon Tenney

5 comentários:

  1. Eu quero tanto que este filme estreie por aqui, mas nada dele ainda. O que me chama muito a atenção nos textos que tenho lido são os elogios à atuação de Nicole Kidman e à forma como o John Cameron Mitchell conduziu a trama.

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  2. Lê, Obrigado e Seja bem-vinda! Visite o Pipoca mais vezes!

    Kamila, Nossa, mas que demora pra estrear hein! Nicole está mesmo muito bem, das melhores atuações do ano passado. Espero que continue nessa vibe agora de novo! haha E o diretor realmente tem méritos em não ter deixado o filme um dramalhão, nem muito melancólico.

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  3. E olha que u pnsava que nem era tão bom assim... O diretor conseguiu o inimaginável com este bom drama!

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  4. Olá trata-se a 1ª vez que vi o teu blog e gostei muito!Espectacular Trabalho!
    Até à próxima

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  5. Alan, Exatamente a minha impressão! Me surpreendi com a qualidade.

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