Crítica: O Espetacular Homem-Aranha (de Marc Webb, 2012)

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*ATENÇÃO - O texto contém spoilers.


Peter, que se interessa por Gwen, que é filha do capitão da Polícia e trabalha com o Dr. Curt Connors, que era amigo de Richard Parker, que ajudou a criar a super aranha, que acabou mordendo seu filho, que outra vez se desentendeu com o dono de uma loja, que foi assaltado em seguida e pediu a ajuda do garoto, que mais uma vez disse que não era problema dele capturar o bandido, que acaba por matar o Tio Ben. 

E poderia continuar com alguns emaranhados mais: *Richard Parker, que criou uma poderosa máquina capaz de espalhar uma nuvem de gases em uma cidade, que continua no laboratório anos depois de inutilizada e será fundamental no plano do Lagarto de espalhar o vírus em Nova York. *Dr. Connors, que trabalha com cruzamento genético de espécies como cura de doenças, que pode ajudar Norman Osborn, que está quase morrendo, que... fica pro próximo filme? 

Tudo isso seria uma incrível metáfora para associar as teias de histórias que cercam Peter Parker àquelas que ele está destinado a lançar. Todos os acontecimentos no filme partem para uma explicação de causa e efeito e de relacionalidade, sobretudo, apontando para o pedante destino. Assim, embora o pretexto seja amarrar o roteiro com elemento factíveis ao herói, o resultado acaba por parecer extremamente forjado. 


Mais desastrosas ainda são as pontas soltas deixadas, que dão a ideia de estarem na trama apenas para permitir o surgimento de sequências. Se o início do filme parece promissor por dar indícios da vida secreta dos pais de Peter, do meio para o final o roteiro quase ignora o mistério, tentando vez ou outra lembrá-lo com o Dr. Connors, mas nunca se aprofundando, e retomando de maneira tola na fraca cena pós-crédito. O mesmo pode-se dizer da "caça" ao bandido com a estrela no pulso. Será que o veremos novamente em um próximo filme, apenas para dar um "motivo" a um novo vilão, tal qual o Homem-Areia do Raimi?

Contudo, há ainda o que se celebrar no longa de Marc Webb. Andrew Garfiel e Emma Stone assumem com propriedade seus personagens, além de funcionarem bem como par romântico. Peter Parker e Gwen Stacy demonstram uma atitude convincente para jovens que devem e podem fazer algo maior pelos outros. É bem verdade que o relacionamento deles acontece de maneira um tanto esquisita, ela se admira pela coragem, inteligência e esquisitice dele e ele provavelmente já a admirava na sala de aula. Até aí tudo bem, mas marcar o primeiro encontro com um jantar na casa dela? Ok, nada que não possa ser relevado e superado após os dois firmarem-se como casal.

Tio Ben [desempenhado de maneira comovente por Martin Sheen] e Tia May [Sally Field] também conferem credibilidade como os "pais adotivos". Pela figura paterna do tio, se tem uma mostra clara da formação do caráter de Peter. É possível sentir o respeito do jovem, que compreende o silêncio dos tios em relação aos pais e em momento algum os culpa ou os nega do sentimento de família. Assim, vale destacar outro ponto baixo na direção de Webb, que é o momento seco e mal explorado na morte do tio.


O filme ainda possui alguns bons momentos icônicos, como quando o herói dá a máscara ao menino, dizendo que o tornará mais forte, ou quando Peter puxa Gwen para o primeiro beijo. O diretor conduz relativamente bem as cenas de ação, é um bom mérito a cena dos saltos em primeira pessoa, já vista e revista nos trailers. Já os momentos cômicos variam. Garante-se boas risadas quando o herói prende um assaltante, cheio de brincadeiras e mostrando o jeito adolescente do personagem. Mas é desnecessário o exagero da cena no metrô, com Peter grudando nos ferros e arrancando a blusa de uma passageira, assim como também é bem infantil o momento em que ele arremessa a bola de futebol americano, acertando e quebrando a trave.

Por fim, entre os pontos positivos que a releitura trouxe ao personagem e os erros que evidenciam o quão cedo veio o reboot, fica a sensação de que era melhor ter recuperado a imagem da franquia do Raimi. Certamente, há muito a ser trabalhado para um próximo filme, acreditando mais na inteligência do público, deixando algumas coisas mais sutis e tentando entregar uma história que funcione perfeitamente se vista de maneira isolada. Do modo como está, por mais fiéis aos quadrinhos que possam ser, os novos arcos servirão apenas para manter vivo o personagem no cinema, onde mesmo com boa qualidade, não consegue atingir voos mais altos e realmente espetaculares.



★★★
O Espetacular Homem-Aranha
(The Amazing Spider-Man, de Marc Webb, EUA, 2012)
Com: Andrew Garfield, Emma Stone, Rhys Ifans, Denis Leary, Martin Sheen, Sally Field, Irrfan Khan, Campbell Scott, Embeth Davidtz, Chris Zylka, Max Charles.


2 comentários:

  1. Tem tanta coisa tão bizarra no roteiro desse filme (assim como a maioria dos filmes sobre super-heróis ultimamente) que tá díficil pensar em assistir uma continuação. Sério, o vilão deixa o plano dele na tela do computador pra alguem chegar e descobrir tudo, com direito a ilustração de centenas de largatinhos atacandi a cidade?? Em que momento entre se mudar para o esgoto e fazer calculos malucos o tal doutor criou esse power point delicioso para nos prestigiar?? E o Peter parker querendo tirar fotinho do lagarto e perdendo a máquina (tá riquinho pra poder perder máquina fotográfica facinho assim) com seu nome, só faltava ter o CPF pra colocar na nota fiscal paulista. E depois de um banho gostoso no esgoto e da lutinha com o lagartão ele vai na casa da namorada, não toma banho e depois ainda faz o famoso passeio pela cidade pulando nos prédios com as teiazzzzzzzzzz dormi. Ah, e claro... uma companhia gigantesca de medicamentos e biotecnologia iria entregar total acesso, incluindo chave e senha de segurança para um aluna do ensino médio. Tá facinho ser roterista desse jeito ein? Até a novela das 9 tá melhor.

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  2. O filme realmente podia ser bem melhor Alessandra! E obrigado pela visita!

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