1970, época de ditadura militar no Brasil e também da Copa do Mundo no México. Nesse contexto se desenrola a história de Mauro, um garoto que vivia com seus pais em Belo Horizonte. Seus pais são militantes contra a Ditadura e precisam sumir por uns tempos, que dizem apenas ser umas férias, mas que voltariam antes que a copa começasse. Ele é deixado então com o avô, que logo vem a falecer, e precisa se adaptar ao estilo de vida um tanto excêntrico de um judeu vizinho, que o acolhe em sua casa.
Entre a angústia pelo retorno de seus pais e a ansiedade pela Copa do Mundo, Mauro vai descobrindo um mundo novo ali no bairro, com muitos judeus e italianos, muita gente idosa, e poucas crianças. A história caminha em um simpático ritmo dividido entre infância e velhice. É interessante perceber todo o amadurecimento do menino. Aos poucos ele vai deixando a preocupação pela volta de seus pais e passa a apenas procurar se divertir por ali com as outras crianças. Passa a aceitar a companhia do velho judeu e descobre o quanto essa relação pode lhe beneficiar, seja na hora do café com peixe (que faz bem pra cabeça) ou nos melhores almoços do bairro com as senhoras vizinhas, sempre muito atenciosas. Tudo isso, à medida em que vai chegando a copa e todos passam a se envolver com o sentimento de união pelo seleção.
Assim, o filme consegue despertar um sentimento muito agradável no espectador. Um dos elementos responsáveis por isso é a fotografia aconchegante, por assim dizer, como casa de vó. Vale mencionar também a trilha sonora, que ora é divertida, e ora melancólica, como o próprio filme, mas sem nunca abusar de um momento ou de outro.
Com uma linguagem que parece uma mistura de cinema reflexivo europeu com elementos brasileiros, o filme acerta o tom, no entanto, ao não se mostrar com cara de importado e muito menos de nacionalista exagerado, o que poderia facilmente ocorrer em virtude da dupla Ditadura / Futebol. Mesmo contando uma história totalmente habituada em um cenário brasileiro, não toma isso como elemento principal, porque a linguagem em si é universal. Seja visto aqui ou na Rússia, o filme consegue se posicionar na mensagem do ponto de vista de uma criança que deve amadurecer em meio a solidão.
Há a simplicidade do menino que transita entre a inocência e a dureza do sentimento, mas que ainda não sabe exatamente determinar o momento de cada um. Mauro vive naquela sensação indescritível de completar um álbum de figurinhas e de festejar uma Copa do Mundo, em uma felicidade que nem mesmo se importou de estar sozinha comemorando.
O Ano Em Que Meus Pais Saíram de Férias (de Cao Hamburguer, Brasil, 2006) | 9,0
Com: Michel Joelsas, Daniela Piepszyk, Germano Haiut, Caio Blat, Simone Spoladore, Eduardo Moreira, Liliana Castro e Paulo Autran
Eu acho este filme brilhante. Tinha tanto a minha torcida para emplacar uma indicação ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, que merecia, e acabou não vindo! Acho muito interessante sempre o uso do olhar infantil para falar sobre temas espinhentos.
ResponderExcluirMuito bom o filme. Muito mesmo, deveria ter vencido o Oscar. Acho um misto de sensibilidade e tecnica. O roteiro, o elenco e a direção são cuidadosas. E o tom de nostalgia impera toda a narrativa.
ResponderExcluirótimo texto, abs
Filminho chucro. Péssimo roteiro e péssimos atores.
ResponderExcluirÉ mais um libelo socialistazinho contra os militares, os verdadeiros defensores da democracia.
Tá na hora do cinema nacional começar a fazer filmes de verdade.
E existe isso de "cinema reflexivo europeu"? Enfim, o filme é um primor de sutileza, das cruezas de que temos consciência, mas o garoto não. E esse tipo de produção é uma raridade no cinema brasileiro, que gosta tanto de espetacularizar sua História, isso quando se debruça sobre ela. O final é arrebatador.
ResponderExcluirRafael, considero que o cinema europeu possui algumas vertentes. Away da novelle vague, do neo-realismo italiano de Fellini & cia, ou de um cinema mais inquieto e extremamente crítico praticado na Alemanha durante época do muro. Quando falo de "cinema reflexivo europeu", tento fugir desse lado mais experimental, exagerado e ácido da europa e tento enquadrar o "Ano..." mais como um daqueles filmes poéticos franceses, que embora fossem de um clima suave, apresentavam a crítica embutida, sem no entanto ser algo escancarado. Mesmo a Alemanha tem uma corrente mais assim hoje em dia
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