Crítica: Detona Ralph (Wreck-it Ralph, 2012)

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Nada mais fascinante para um gamer do que ver os personagens de um jogo ganhando vida com propriedade em outros meios. E não se trata de simplesmente ficar com o "life cheio" por conta de moedas ou com aquele "continue" extra adquirido com um cogumelo verde. O fascínio aqui acontece quando se pode conhecer mais do protagonista, por exemplo, ao ver a sua história contada em uma HQ especial, em webséries ou qualquer outro material de universo expandido. De certa forma, isso ajuda a concretizar a imagem daquele personagem, como se estabelecesse a sua biografia no mundo. É saber como é a relação entre o Mário e o irmão Luigi, como era a vida do Link antes de conhecer a Zelda ou em que momento Sub-Zero e Scorpion se tornaram inimigos. Pois é nesse caminho mágico que "Detona Ralph" decide brincar um pouco.

No jogo de fliperama "Conserta Felix", Ralph [John C. Reilly / Tiago Abravanel] é o vilão que destrói um prédio inteiro, para que o pequeno protagonista em questão, o Felix [Jack McBrayer / Rafel Cortez], possa restaurar as janelas e paredes com seu martelo mágico. Depois de 30 anos sendo jogado de cima do edifício e tendo que morar em um lixão de tijolos, o grandalhão decide mostrar aos outros personagens do jogo que pode ser mais que apenas um destruidor. Se o Donkey Kong conseguiu que a Nintendo mudasse seu status de vilão do Mário para ídolo em Donkey Kong Country, pode-se dizer que o Ralph não teve a mesma sorte. Assim, a saída encontrada para entrar no glamouroso mundo dos heróis é ganhar uma medalha dourada, que ele ouviu dizer ser fácil de se conseguir em um jogo de tiro em primeira pessoa.


Com o grande objetivo criado para "zerar" o filme, "Detona Ralph" peca apenas por não ter muitas "missões"  a resolver, resultando em certa demora para concluir algumas situações e na pouca aventura por mais cenários de jogos, dada as inúmeras possibilidades que poderia explorar em um playcenter. Contudo, ao longo da narrativa, a animação nos brinda com uma série de easter eggs e homenagens a games clássicos e à cultura pop. Sabiamente, explora pequenos detalhes com muita criatividade para caracterizar o mundo "social" dos jogos, como no andar "travado" dos personagens de 8-bits, nas trilhas compostas em midi ou quando personagens aparecem morrendo e revivendo perfeitos em seguida. 

Outro mérito é não procurar se apoiar exatamente em personagens conhecidos, embora eles estejam o tempo todo em referências na trajetória da "redenção" de Ralph. É uma maneira inteligente de se inserir uma figura nova em um terreno estabelecido, mas sem bagunçar nada e sem que isso pareça fora de lugar. Tanto que o grupo de ajuda de Ralph são os Vilões Anônimos, ainda que lá estejam Zangief e Mr Bison, do Street Fighter, Robotinik, do Sonic, e o público saiba porque está rindo quando Koopa se exalta e cospe fogo em um dos fantasmas do Pac-Man, que imediatamente morre como no jogo. É uma forma de utilizar as homenagens como gatilhos no roteiro, abrindo espaço para que o protagonista se desenvolva, como se já estivesse inserido há tempos na memória da plateia.



O paraíso das referências se torna ainda mais evidente quando a pequena Vanellope Von Schweetz [Sarah Silverman / MariMoon] entra na história. No decorrer do longa, Ralph acaba por cair no jogo Sugar Rush e deve ajudar a mocinha a ganhar a corrida do Rei Candy para poder ter sua medalha de volta. Nessa fase, não será difícil encontrar em Sugar Rush alguns dos célebres momentos de Mário Kart, com os corredores passando por diferentes pistas, encontrando "armas" para atirar nos adversários ou power-ups para ganhar vantagens. O golpe final da produção vem com a Vanellope, que já cria empatia por si só, mas ao colocá-la como um personagem com "defeito" [que ela diz ser Pixelaxia], a animação simplesmente dá tilt no público ao fazê-lo torcer por duas das maiores rejeições dos jogadores, o vilão e o BUG! E se ao final o nostálgico gamer não se emocionar, pode apertar o reset e começar tudo de novo, você certamente deixou escapar aquele pote mágico no meio da fase bônus.



★★
Detona Ralph 
(Wreck-it Ralph, de Rich Moore, EUA, 2012)
Com: John C. Reilly, Jack McBrayer, Jane Lynch, Sarah Silverman, Mindy Kaling.

2 comentários:

  1. Apesar de ter gostado, certas soluções e situações do filme eu já vi antes em outras historias.

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  2. Eu teria ficado mais satisfeito se a participação destas personagens icônicas dos games não fosse tão superficial, mas, mesmo assim, o filme é bem divertido.

    O paralelo com a história do Mario e do Donkey Kong realmente é algo muito legal para um old gamer notar :) []s

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