Crítica: Amor Sem Escalas (Up in the air, 2009)

Atenção passageiros do vôo Desprendimento 03, com destino ao fantástico mundo da natureza humana, embarque imediato, portão Jason Reitman.

You’re fired! Para Donald Trump isso talvez não seja problema, é só apontar o dedo na cara do infeliz, deixar algumas veias saltarem na testa, cerrar os olhos e tã-dã! O trabalho está feito, a audiência garantida e aquele indivíduo já não faz mais parte da empresa. Na vida real, no entanto, não há um grande patrocinador que banque esta idéia. É preciso ter calma, hombridade, humanizar o processo, indicar novos caminhos. E se a quantidade de funcionários recebendo o bilhete azul passa das dezenas por dia, é preciso de Ryan Bingham (George Clooney).

É um trabalho sujo, mas já que grandes empresas não têm essa coragem toda, Bingham é a arma. É preciso frieza para isso, olhar nos olhos, convencer da situação e ainda mostrar um novo horizonte que havia sido perdido no tempo. “É uma grande chance de você seguir o seu verdadeiro sonho e ir fazer o que gosta.” Realmente soa como uma grande oportunidade. Mas não pense que há sentimentos nisso tudo, não com Bingham. It’s just business.

Cartões e cartões de hotel. Fidelidade na companhia aérea. Milhas e milhas e mais milhas a acumular nisso tudo. “Próximo destino? Aeroporto, por favor! Amigos? Vivo cercado de pessoas o tempo todo! Família? Todos morrem sozinhos! Casamento? Veja a quantidade de divórcios!” Ele não quer dinheiro, nem amor sincero. Apenas milhas. Eis a sua obsessão.

Entre indas e vindas ao Hilton, surge Alex (Vera Farmiga). E se Bingham tiver uma alma gêmea, essa é Alex. Ela é puro desprendimento. Hoje é St. Louis, amanhã Minnesota, mas amanhã a tarde ela estará disponível para um sexo casual. Não há acanhamento algum em relação a isso. Perfeito para Bingham.

E eis que surge a tal da videoconferência. Gastos com a companhia aérea? Não mais, meu caro. Demissões acontecerão agora daqui mesmo. Redução de custos, lugar fixo, estabilidade. “Como alguém pode ser demitido por videoconferência?!!!” O problema não está na impessoalidade do processo, mas na falta das milhas e nessa forçada estabilidade. A jovem Natalie (Anna Kendrick) é a responsável por tudo isso, e ele há de viajar por aí com ela para mostrar a ineficácia desse novo sistema.

Natalie é um protótipo de Bingham. É capaz de estabelecer um fluxograma para o momento demissional. “Está tudo nos folders”. Mas é daquelas que define uma meta pra tudo e estabelece planos e mais planos e um roteiro próprio pra sua vida – aquela que é perfeita, com o príncipe encantado e a família feliz estereotipada –. É um cubo de gelo, que só precisa de umas doses de whiskys pra se desmanchar na sua verdadeira essência.

Jason Reitman pretende que você comece a pensar em você mesmo. Em como anda o seu trabalho, o seu convívio com a família, se realmente faz o que gosta ou se acomodou a fazer, no que está construindo de relações humanas. É pra você pensar no que realmente importa pra você e irá fazer a diferença daqui a uns anos. É uma bela mensagem, e como livro deve funcionar perfeitamente.

Mas você está viajando de classe executiva, e por mais que a viagem esteja bem agradável e sem grandes turbulências, talvez falte aquele detalhe do brinde de champagne na taça de cristal, que só uma 1ª classe é capaz de lhe servir. Além das milhas a mais, é claro.

★★★★
Amor sem Escalas 
(Up In The Air, de Jason Reitman, EUA, 2009)

Com: George Clooney, Anna Kendrick, Vera Farmiga.